Adiodato Gomes | Tina Krüger | Yassmin Forte | Mario Cumbana | Iria Marina

O que é preciso é amor

Embaixada de Espanha

Introdução

“O que é preciso é Amor” é uma exposição colectiva resultante do trabalho desenvolvido pelos participantes da oficina ACERCA “Fotografia de Autor. Chaves para o desenvolvimento de um projecto pessoal”, leccionada por Mauro Pinto (Moçambique) e Héctor Mediavilla (Espanha), em Junho de 2019, em Maputo. Os participantes da oficina eram todos fotógrafos profissionais que viram uma oportunidade de aprofundar a sua prática artística e documental.

Durante a oficina fez-se uma dinâmica de grupo para escolher um tema comum sobre o qual cada um dos participantes realizaria o seu projecto pessoal.

Foi proposta uma grande variedade de temas, como os usos e costumes da capulana, a arquitectura da cidade, a hora de ponta, a comida e a positividade do corpo, entre outros. No entanto, o tema finalmente escolhido, por consenso, foi o amor, por ser um conceito universal que permite ser abordado a partir de perspectivas muito diferentes permitindo realizar um projecto conjunto rico em olhares e nuances. Cada participante escolheu um aspecto ligado o amor para desenvolver o seu projecto pessoal.

Estamos orgulhosos dos resultados. As reflexões que podem ser feitas sobre o amor são infinitas. No entanto, cada um destes olhares é único, não só pela sua estética ou pela técnica fotográfica utilizada, mas por algo muito mais importante: a mensagem que querem transmitir. Estes seis autores analisaram um aspecto concreto do amor tendo em atenção a sua história de vida, os seus valores e as suas aspirações, desenvolvendo um discurso visual, coerente e atractivo. Os seus ensaios fotográficos convidam o espectador a fazer uma pausa para observar, sentir, pensar e, assim, fazer novas perguntas e, quem sabe, encontrar respostas sobre a importância do amor na sua vida.

Héctor Mediavilla, curador da exposição

 

Sinopses

“Capitão das Flores” de Adiodato Gomes
António David Júnior tem 32 anos e é vendedor de flores numa via pública. Faz vendas há cerca de 6 anos e já é apelidado como “Capitão das Flores”. O Capitão começou a vender flores a convite do seu irmão mais velho, que já faz este negócio há mais de 7 anos. O Capitão aceitou trabalhar com o seu irmão para poder ganhar algum dinheiro e pagar os seus caprichos, mas logo começou a aperceber-se da importância das flores e da sua procura, do seu significado nas nossas vidas, seja ele alegre ou triste, mas que, a maior parte das vezes, nos trazem muito amor, entre outras alegrias. Um amor que já dura alguns anos e que já conseguiu conquistar um razoável número de clientes. O objectivo desta série é mostrar o quanto as flores são importantes e fundamentais nas nossas vidas, no amor, em qualquer momento e situação: aniversários, casamentos, baptismos, amizade, morte…

“Eu gramo de mim” de Mário Cumbana
A aparência física continua a ser vista como um elemento importante na aceitação do ser humano na sociedade. Padrões de beleza e de comportamentos são criados para classificar as pessoas “comuns” como bonitas e rejeição das “exclusivas” como estranhas. A fotografia torna-se chave na valorização de características únicas e exclusivas das pessoas onde o privilégio de ser “diferente” se torna bonito. O retrato consolida o amor-próprio e liberta-nos da opressão social e psicológica baseada na aparência física. A série “Eu gramo de mim” fala sobre o padrão de beleza considerado perfeito e mostra que não há mal nenhum em aceitarmo-nos como somos.

“Amor à venda” de Tina Krüger
Na cultura consumista de hoje em dia, o amor está a ser transformado numa mercadoria. Todos os dias, comerciais, anúncios e os média espalham a mesma mensagem multifacetada para todos nós: COMPRE O AMOR AQUI! Eles espalham a ideia de que, para merecer amor, os nossos corpos têm que ser moldados a um padrão de beleza irreal, devemos comprar produtos e serviços para aumentar nossas chances e, geralmente, agir de maneira desejavelmente padronizada. Esse mito quer manter a ilusão de que apenas um tipo aprovado de beleza física torna alguém digno de amor, conexão e prazer. Que devemos odiar o nosso estado natural e continuamente nos pressionar e modificar para alcançar esse “ideal”. Que existe uma maneira correcta de ser, uma vida sem amor. Isso desconecta as pessoas de si mesmas, tornando-as, como sociedade, impotentes para expressar sentimentos profundos de maneira aberta e honesta consigo próprias e com aqueles de quem gostamos. O amor começa primeiro com o amor-próprio.

“Amor para a vida” de Yassmin Forte
A sociedade está cada vez mais distante de si própria. O problema é, simplesmente, a falta de amor. O amor é um sentimento de afeição que se desenvolve entre os entes que têm a capacidade de o demonstrar. Existem vários tipos de amor: amor platónico (amizade pura), amor fraterno (entre irmãos), amor incondicional (amor de mãe). Falaremos do amor verdadeiro, aquele em que duas pessoas se amam, independentemente das situações e dos problemas que possam experimentar. Aquele amor em que nada treme e que resiste a qualquer dificuldade, fazendo com que o casal fique junto nos maus momentos e festeje todos os momentos felizes. Este amor é diferente da paixão, não se foca em coisas pequenas e inúteis, é sobre a grandeza dos sentimentos e dos benefícios que a relação traz. Neste projecto, quero focar-me no amor que começa na juventude e que continua 20, 30 ou 40 anos depois. O amor que faz com que duas pessoas se mantenham firmes nas suas vidas de casados e que, apesar das suas diferenças, continuam em frente. Com este trabalho quero chamar a atenção das pessoas, independentemente da sua faixa etária, estatuto social, nível académico. Hoje em dia estamos todos tão virados para os nossos próprios caprichos e satisfações temporais que esquecemos que precisamos uns dos outros, que a atenção, o carinho, o respeito, o amor, mudam tudo, mudam-nos e tornam-nos melhores.

“Para além do afecto” de Tomás Cumbana
A relação dos animais com o homem tem início já na pré-história, quando os animais eram utilizados para proteger o território em que o homem vivia, auxiliando-o na caça e transporte de carga e seres humanos. O homem sempre dependeu da interacção com outras espécies para a sua sobrevivência, sendo que esta era uma relação predatória, passando mais tarde para a domesticação. Conforme essa interacção foi-se desenvolvendo, surgiram ideias a respeito da utilização de animais como recurso terapêutico. Nessa interacção que o homem tem com o animal, para este caso particular, concluiu-se que crianças que convivam com animais de estimação se tornam mais afectivas, solidárias, sensíveis, com maior e melhor sentido de responsabilidade e de compreensão do ciclo vida-morte. Algumas pessoas idosas tratam os animais de estimação como membros da própria família. Ter um animal de estimação nessa fase da vida pode promover alívio e conforto em momentos de perdas e mudanças, que são comuns nessa etapa, além de possibilitar uma melhor auto-estima e estimular a convivência social. O principal objectivo deste projecto é de trazer à superfície este amor recíproco, para que a sociedade o desperte, já que nós precisamos tanto do animal e como o animal de nós. Esta interacção simboliza o amor entre o humano e o animal.

“Traços de amor” de Iria Marina
A vida é um complexo labirinto. É uma viagem sem destino, pois ela é, em si, um caminho que se faz andando. Carimbámos a nossa existência à nascença, descobrimos o mundo pelas vozes, depois pelos olhos e, por último, pelas mãos e pés. Buscamos o conhecimento, nos apaixonamos perdidamente como se não existisse a humanidade toda, amamos desalmadamente como se o amor fosse oxigénio para viver. Escolhemos uma profissão para escrever a nossa história nas esquinas e cantos do mundo. Trabalhamos, fazemos juras e declarações, aí chegam os filhos e cultivamos o terreno da felicidade eterna como algo puro e inquestionável. Mas será que a vida é tão assim? O que acontece quando as flores do jardim muito estimado e cuidado no passado se tornam secas e as suas pétalas se perdem no tempo, ficando apenas memórias de um amor perdido?