Lizette Chirrime

O Livro de Ndimande

Kulungwana

Informação

Galeria da Associação Kulungwana

Praça dos Trabalhadores, Estação dos CFM - Maputo

De 17 de Novembro a 17 de Dezembro de 2021

 

Comunicado de Imprensa

EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL BI-PARTIDA “O LIVRO DE NDIMANDE” E “OFERENDA”, DE LIZETTE CHIRRIME
DE 17 DE NOVEMBRO A 17 DE DEZEMBRO DE 2021

Inaugurou-se a 17 de Novembro de 2021, pelas 17 horas, na Associação Kulungwana, a exposição “O Livro de Ndimande”, seguida pela “Oferenda”, no Centro Cultural Brasil-Moçambique, às 18,30 horas, prolongando-se as mesmas até ao dia 17 de Dezembro de 2021.

A exposição de Lizette Chirrime a ser inaugurada no mesmo dia, em dois locais da cidade, é, simultaneamente, uma homenagem à mãe (“Oferenda”) e ao pai (“O Livro de Ndimande”).

A partir de texto da própria artista, “O Livro de Ndimande” reflecte o seu percurso, marcado pelos valores culturais da sociedade de que Lizette Chirrime é oriunda.

Rejeitada pela família paterna, foi também motivo para ser maltratada e ser considerada uma marginal. Pelo contrário, os ancestrais aproximaram-se dela, dando-lhe protecção, amor e carinho e fazendo dela uma “mensageira que escreve com cores”.

“Os objectos que Eu crio são uma forma deles materializarem a sua existência. Neste “livro” eles falam do seu império ou reino que foi menosprezado, com o seu legado destruído, pelos ditos assimilados que não têm como base a sua cultura, mas sim a do outro”.

A segunda parte, de homenagem à mãe, a ser inaugurada no Centro Cultural Brasil-Moçambique, trata-se de “uma obra de conexão e compartilhamento”, iniciando-se o seu projecto quando a artista vivia um período difícil, em resultado de problemas de saúde, que lhe provocavam “dores insuportáveis dia após dia”. Por iniciativa de uma “irmã” amiga, Tana, um grupo de mulheres decidiu organizar ciclos de costura, tendo produzido uma bela colcha de retalhos, que foi crescendo ao longo de vários meses. No final, esses círculos reuniram mais de 68 mulheres, de todas as idades e classes sociais.

“A criação desta exposição foi uma experiência transformadora. Lizette não é a mesma pessoa nem a mesma artista do que quando começou. Ela continua a explorar o que significa criar arte por meio da comunidade e fazer desse espírito comunitário também uma obra de arte”.

Esta exposição foi já apresentada na África do Sul, sendo também a primeira exposição realizada no país após o seu regresso da Cidade do Cabo.

 

Texto da Artista

O Livro de Ndimande

Sou Lizette Chirrime, moçambicana, Filha de Elias Chirrime e de Floriana Eduardo, nascida em Nampula, distrito de Angoche. Os meus primeiros anos passei com a minha mãe e só aos 7 anos conheci o meu pai e com ele fui viver. Ele teve filhos com 3 mulheres, sendo eu a primeira filha.

Este é um “livro” que vou “escrevendo” a mando dos meus ancestrais do lado materno e da parte paterna. Eu acredito que eles me usam para escrever sobre a diferença entre o mundo dos homens, e o mundo dos espíritos.

A família do lado paterno me rejeitou, não me acharam capaz de sobreviver no mundo sem licenciatura, queriam que eu fosse doutora, engenheira, filósofa, advogada, etc, e como a minha cabeça não estava inclinada para a escola, serviu de motivo para me maltratarem e me considerarem uma marginal.

O meu pai me trocou pela filha da minha segunda madrasta, e que, por destino, é da minha idade e muito estudiosa. Tendo-se formado em medicina geral.

Na minha opinião, ele nutriu uma “árvore” que não o alimenta espiritualmente, para satisfazer um padrão desenhado pelos colonos e pela sociedade.

Por sua vez os meus Ancestrais se aproximaram de mim, dando-me proteção, guia, amor e carinho. Fizeram de mim uma mensageira que escreve com cores.

Os objectos que Eu crio são uma forma deles materializarem a sua existência.

Neste “livro” eles falam do seu império ou reino que foi menosprezado, com o seu legado destruído, pelos ditos assimilados que não tem como base a sua cultura, mas sim a do outro.

Fala de quão profundamente fomos submetidos e enganados ao ponto de acharmos brega a nossa própria cultura, os nossos valores.

Fala de como um Pai que foi capaz de deixar a sua filha ao relento, sem proteção, e proteger e abrigar no fundo do seu coração filha de desconhecido e de uma estranha por causa de um diploma.

Fala do pai que não aprendeu a sê-lo por falta de conhecimento da sua própria essência.

Fala do poder do perdão e de amor incondicional.

FALA DE QUE TEMOS DE SABER QUEM SOMOS, PARA SABER IDENTIFICAR O QUE NÄO É NOSSO.