Pekiwa

Ntumbuluko (Origens)

Fundação Fernando Leite Couto

Informação

Fundação Fernando Leite Couto

Exposição temporária: Ntumbuluko

Data: 06 de Outubro a 06 de Novembro 2021

Curadoria: Yolanda Couto

 

Texto

Africa está aqui, bem presente em todas a obra de Pekiwa.

As esculturas feitas em velhas madeiras, são bocados de história das gentes que as viveu, são pertença de um passado, transformado em futuro, esculpido e reciclado às mãos do artista.

Nas suas obras, há um magnetismo que nos transporta através dos tempos imemoriais até ao Vale do Rio Zambeze, a uma sociedade Tonga, rica e organizada que decorava as portas e janelas das suas casas de madeira e colmo, com desenhos esculpidos em relevo.

A arte de Pekiwa faz parte integrante dos reinos africanos saltando das impenetráveis brumas do passado, para um presente maravilhosamente elaborado em que o artista traduz toda a pureza de um abraço ou a singularidade criadora das suas máscaras e das suas esculturas de homens e mulheres.

Sonham os tempos imemoriais em que nas grandes pradarias corriam livremente os guerreiros africanos com as suas belas e orgulhosas vestes tradicionais e em que uma liberdade de visão e expressão plástica se manifestava de diversas formas culturais, quer seja através da música, da dança, de desenhos, tatuagens ou pinturas.

Uma outra fonte de inspiração para o artista, são as canoas da Ilha de Moçambique, talhadas do tronco de cajueiros e de mangueiras. O formão apodera-se dos cascos gastos e humedecidos de tanto navegarem, moldando e esculpindo outras tatuagens.

Fala-nos das gentes do mar, e de um povo em que convergem as mais diferentes origens e costumes.

Pekiwa movimenta-se em cânones temáticos e estilistas com origem nas suas tradições, e no seu pai, o escultor Govane, mas traz à tona a sua própria criatividade e a sua marca de artista com formas e texturas muito próprias, onde se reconhece uma contemporaneidade inegável, juntando influencias culturais, o conceito e a técnica de reciclagem utilizada nas suas obras.

Os trabalhos, na sua maioria figurativos, estão animados de um poderoso sentido interno, traduzido em formas simples, exprimindo a essência das vivências sociais, a presença do real manifestamente carinhoso e simultaneamente satírico.

Esculpindo a alma das suas figuras, sem renunciar ao seu passado e protegendo a herança cultural de moçambicana, Pekiwa afirma-se numa presença artística nova.

Yolanda Couto