Pekiwa | Carmen Muianga

DEP – Desenho / Escultura / Pintura

Centro Cultural Franco Moçambicano | Maputo

Introdução

Exposição colectiva de Desenho, Pintura e Escultura de Bata, Carmen Maria, Celestino Mudaulane, Ídasse, Ndlozy, Pekiwa, Saranga, Simione com curadoria de Filipe Branquinho, patente de 15 de Setembro a 30 de Novembro 2020, na Sala de exposições e Jardim do CCFM.

Encontro de oito artistas de diferentes gerações e disciplinas que representam uma parte significativa da criatividade e inventividade das artes plásticas Moçambicanas. A escolha dos artistas e das obras, da responsabilidade do curador Filipe Branquinho, cruza os diferentes universos dos artistas na tentativa de criar uma coerência estética e narrativa.

 

Conceito

Reabrir a sala de exposições do CCFM com uma exposição colectiva, e não uma exposição individual, não foi ao acaso, mas sim na tentativa de contribuir um pouco mais para o sector das artes visuais duramente afectado, tal como todo o conjunto de actores e agentes culturais, pelo actual contexto, encontrando assim uma forma de um número maior de artistas ser beneficiado com a oportunidade de visibilidade do seu trabalho.

A escolha dos artistas e das obras foi deixada ao critério do curador, Filipe Branquinho, que seleccionou um conjunto de oito artistas de universos diferentes, na tentativa de criar uma coerência estética e narrativa. A instalação das peças foi imaginada em diferentes espaços do CCFM: a sala de exposições e o jardim, permitindo uma deambulação dos visitantes através de um percurso.

A escolha de realizar esta exposição colectiva permite também um olhar sobre a evolução de uma parte da criação contemporânea Moçambicana, bem como a apreciação do dinamismo criativo no âmbito das artes visuais, através do trabalho de oito artistas diferentes.

Vincent Frontczyk
(Director do CCFM)

 

Esta é a Cor dos Meus Sonhos

Um dia encontrei inopinadamente em Maputo um velho amigo do liceu, o programador cultural, curador e ensaísta António Pinto Ribeiro, responsável pela criação da página online da Fundação Calouste Gulbenkian sobre arte africana e ele confidenciou-me: ”As artes plásticas moçambicanas são as mais criativas do continente...”. O que lhes falta então para serem mais conhecidas? Condições materiais e institucionais que as dignifiquem e um esforço de divulgação que se transformasse em desígnio político.

Enquanto isso não acontece restam-nos vislumbres como a desta colectiva, por iniciativa do Franco-Moçambicano e do seu curador, o artista Filipe Branquinho, a qual nos permite farejar essa frescura do traço/cor que respira ou a do volume que pulsa e que magnetizam a percepção no encontro do olhar com as obras.

Em épocas como a nossa, de cruzamento de paradigmas e algo conturbadas pela descoberta de que a natureza também nos agride, revelação que o Covid tornou patente, acontece as pessoas perderem o rumo do que seja autêntico. Instala-se um marasmo que se estende à arte.

O que faz necessárias exposições como esta. Quando vejo reunidas estas obras de Celestino Mudaulane, Simione, Ndlozy, Ídasse, Carmen Muianga, Bata, Saranga e Pekiwa – uns nomes mais badalados e outros que tiveram menos oportunidades para expor nos últimos anos -, a impressão geral que me fica é a de que eles nos situam face a “um novo primitivismo”.

Não se aduza aqui qualquer atestado de menoridade (evitemos a polémica que conjuga a palavra primitivo), mas antes um franco elogio, pois pretendo frisar que, contra os sinais de esgotamento que emanam da prática de muita da arte contemporânea – a qual enredada no artifício do conceito se esqueceu da “inteligência da mão”, uma das causas para a sua crescente irrelevância ou para o seu confinamento na esfera de um cada vez mais autista “mercado da arte” – estes artistas devolvem-nos uma energia e um “sentimento de presença”, característica daquilo a que Walter Benjamin chamava a aura; qualidade que está muito para além das especificidades técnicas ou das virtualidades do acabamento expressivo, e antes nos sensibiliza para um novo diálogo com os processos que deixa acreditar ser ainda possível recomeçar tudo – que a arte, como a vida, se reinventa. Neste aspecto é absolutamente vital a pulsão anti-funcional que apresentam algumas destas obras, surreais, totémicas, espectrais.

Estamos de novo diante de uma arte que se manifesta de uma forma orgânica e em porosidade com a vida, e onde, o melhor da ancestralidade se funde com a soltura do moderno.

E é difícil querer melhor do que isso.

António Cabrita

 

Artistas

BATA

Manuel Fernandes Bata, de nome artístico Bata, nasceu a 27 de Outubro de 1958 em Maputo. Começou a esculpir objectos de madeira e ferro, por influência de amigos, usando instrumentos alternativos. Pela originalidade das suas obras, rapidamente deixou de participar apenas nas feiras de artesanato, passando a esculpir para exposições individuais e colectivas dentro e fora de Moçambique, destacando a exposição “Telas e Metais” com Gonçalo Mabunda, no Centro Cultural Franco-Moçambicano (2013) e, mais recentemente, a exposição individual “Os Sentimentos das Mãos” na Fundação Fernando Leito Couto (2018). Inspira-se nas artes ancestrais e nos seus significados, procuramdo ensinar, tal como lhe foi ensinado, a fazer arte com poucos recursos. Lecciona escultura e cerâmica desde os anos 90, recebendo com frequência no seu atelier em Marracuene vários jovens aspirantes a artistas. É membro da Associação de Artesãos de Mumemo.

 

CARMEN MUIANGA

Nasceu a 8 de Outubro de 1974, em Maputo. Concluiu o curso básico da Escola de Artes Visuais em 1989. De 1992 a 1997, deu seguimento à sua formação artística (ensino técnico médio) na Escola Nacional de Artes Plásticas de Havana, Cuba. Ainda durante a sua estadia em Cuba, leccionou a disciplina de Pintura na Escola Lopes Penha, no ano lectivo de 1995/6. De regresso a Moçambique, ingressa como docente das disciplinas de Gravura, Anatomia Artística e Desenho Analítico na Escola Nacional de Artes Visuais, em Maputo, e da disciplina de Artes Visuais na Escola-Galeria Eugénio Lemos, no ano lectivo de 1997/8. No ano seguinte, é convidada para leccionar um curso e um workshop de técnica de Colagrafia no Centro de Arte John Muafangaio, na Namíbia. Actualmente, é professora na Escola Nacional de Artes Visuais (ENAV), em Maputo, Moçambique. Participou na IV Trienal de gravura no Japão, em 1999.

 

CELESTINO MUDAULANE

Celestino Bento Mondlane (Mudaulane) nasceu a 17 de Março de 1972, em Maputo. Licenciado em História pela Universidade Eduardo Mondlane, concluiu o nível médio em Cerȃmica em 1992, na Escola Nacional de Artes Visuais (ENAV), onde actualmente é Director Pedagógico Adjunto e Professor de Cerâmica e Design. É membro do Núcleo de Arte e membro fundador do Movimento de Arte Contemporânea de Moçambique (MUVART). Ao longo da sua formação, destaca os estágios profissionalizantes que realizou em instituições especializadas em ensino artístico, tais como a Art Fundation School, em Joanesburgo, África do Sul (1994), a Escola Secundária Soares dos Reis, no Porto, Portugal (1997) e o Departamentos de Desenho e Cerâmica da Universidade de Natal, África do Sul (1999). Foi diversas vezes premiado na categoria de Cerâmica, destacando o 1º Prémio de Cerâmica na Exposição Anual do Museu Nacional de Arte em Maputo (1999), o 1º Prémio de Cerâmica na Bienal TDM - Telecomunicações de Moçambique (2003) e 2º Prémio de Cerâmica na Bienal TDM - Telecomunicações de Moçambique (2005).

 

NDLOZY

Sebastião Armando Ndlozy nasceu em Lourenço Marques, em 1970. Aos 18 anos, iniciou como aluno do Mestre Chissano, tendo revelado desde cedo uma grande habilidade e um estilo muito próprio. Começou a expôr em colectivas a partir de 1988, mas foi em 1989, com obtenção do 3º lugar no Concurso Novos Talentos da Horizonte Arte e Difusão, e mais tarde, em 1991, com a conquista do 1º lugar neste mesmo concurso, que o seu mérito veio a ser reconhecido. O 6º lugar no Concurso Internacional MAAA/USIA nos E.U.A., valeu-lhe uma bolsa de estudos em 1992. A sua primeira exposição individual realizou-se no então Centro de Estudos Brasileiros em Maputo, em 1991 e, desde esse ano, participou em várias exposições em Moçambique, África do Sul, Namíbia, Portugal, Bélgica, Holanda, Escócia, Cuba e Índia. A sua obra está representada no Museu Nacional de Arte em Maputo, na System House em Tillburg (Holanda), e em várias colecções particulares, com destaque para a colecção de arte de Nelson Mandela e Graça Machel.

 

PEKIWA

Nelson Augusto Carlos Ferreira, de nome artístico Pekiwa, nasceu a 30 de Janeiro de 1977, em Maputo. Iniciou a sua carreira artística por influência do seu pai, o escultor Govane, ainda durante a sua infância. Desde 1996, tem participado em diversas exposições colectivas e individuais dentro e fora do país, com especial destaque para O Barco Mensageiro no Centro Cultural Franco-Moçambicano (2007) e Hora de Ponta na Galeria Kulungwana (2014), em Maputo, mas também a Expo Torino e Expo Milano em Itália (2014). Participou em vários workshops de escultura na Bolívia, Mayotte, Portugal e Zimbabué, onde também expôs o seu trabalho. As suas obras estão representadas em colecções particulares e instituições públicas e privadas em vários países dos cinco continentes. De entre alguns prémios recebidos, assinala o 1º prémio Anual MUSART – Museu Nacional de Arte, em Maputo, (2007) e a Menção honrosa na Bienal TDM – Telecomunicações de Moçambique (2009).

 

SARANGA

Eugénio Saranga nasceu a 23 de Setembro de 1971, em Maputo. Iniciou a sua actividade artística dedicando-se ao desenho e, posteriormente, à pintura, a partir de 1984. Expõe e participa em workshops de formação artística em Moçambique e no estrangeiro desde 1995. É curador de arte, membro do Núcleo de Arte e membro da Associação Moçambicana de Fotografia. De entre as inúmeras exposições individuais e colectivas que realizou dentro e fora do país, destaca Arte para além da Taprobana - a figura humana nos países de expressão portuguesa, na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa, Portugal, e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Brasil (1994), exposição colectiva no Museu de Arte Contemporânea de Gaborone, no Botswana (2005), e diversas exposições colectivas em várias instituições culturais na cidade de Maputo, desde meados doas anos 90 até hoje. Recebeu o 1º Prémio na categoria de Pintura na Bienal TDM – Telecomunicações de Moçambique (2005) e a sua obra está representada em diversas coleções públicas e privadas dentro e fora de Moçambique.

 

SIMIONE

Sérgio Simione nasceu na Cidade da Matola, Maputo Província, a 19 de Janeiro de 1973. É membro do Núcleo de Arte e licenciado em Artes Visuais pelo ISArC – Instituto Superior de Artes e Cultura (2016). Iniciou a arte na escultura em madeira sem mestre, em 1993, tendo participado em vários eventos artísticos dentro e fora do país. De entre as suas exposições individuais destaca Linhas d'Alma, no Camões – Centro Cultural Português, em Maputo (2002) e Força do Vento, na Mediateca do BCI, em Maputo (2009). Participou na Primeira e Segunda Bienal de Jovens Criadores da CPLP, na Praia, Cabo Verde (1998) e no Porto, Portugal (2001). Aolongo da sua carreira artística destaca as experiências no 19th International Woodsculpture Symposium, Kimijarvi, na Finlândia (2013) e na residência artística no Vermont Studio Center, E.U.A. (2004/05). Recebeu o prémio FUNDAC - Alberto Chissano, na categoria de Escultura (2003). Além de se dedicar à escultura, sobretudo em madeira, nos últimos dez anos tem experimentado várias técnicas de pintura e assemblagem.

 

ÍDASSE

Ídasse Ekson Tembe Malendza, nasceu no Vale do Infulene, Maputo, em 1955. É um dos cultores da estética no caminho da identidade das Artes Plásticas de Moçambique. Pratica Desenho, Pintura, Cerâmica e Escultura e teve como professores Manuela Sena e João Paulo. Em 1979, fez o Curso de Animador Cultural no Centro de Estudos Culturais, com Malangatana e Domingos Manhiça, onde adquiriu conhecimentos de Antropologia, História da Arte Moderna e Arte Africana, Música, Fotografia, Teatro, Pintura, Cerâmica, Desenho e Xilogravura. Sob a orientação de António Quadros completou o Curso de Comunicação Gráfica. Trabalhou no Instituto Nacional de Cinema, onde criou o Departamento de Arte. Integrou o movimento artístico Charrua. Membro do Núcleo de Arte, da Associação Moçambicana de Fotografia, da Associação de Escritores Moçambicanos e do Movimento Habitantes de Desenho. A sua obra encontra-se espalhada em várias colecções em Moçambique e em países como a Nigéria, África do Sul, França, Portugal, Espanha, E.U.A., Itália, Dinamarca, Japão, Áustria, Suécia ou Brasil. Ao longo da sua carreira participou em mais de uma centena de exposições, integrou vários júris e realizou diversas curadorias.

 

Informação

Exposição patente de 12 de Setembro a 30 de Novembro 2020, na Sala de exposições do CCFM.