Manu

A Batota dos sonhos

Fundação Fernando Leite Couto | Maputo

Introdução

Num o mês, em que oficialmente se prestigia a Mulher moçambicana a Galeria da Fundação Fernando Leite Couto apresenta ao público a arte e a visão de uma mulher estilisticamente influenciada por outras mulheres e pelas suas histórias.

Manu Madeira dedica esta sua exposição às mulheres e, através de uma linguagem artística na qual funde a arte e a vida, demonstra possuir uma grande percepção da realidade e sensibilidade, mista de um sentimento de admiração da “mulher comum” e da sua interioridade humana.

Durante um largo período, a artista conheceu e conviveu com mulheres de diversas origens sociais, nomeadamente, de centros de recuperação, de mercados, de escolas, de outros locais de trabalho ou simples donas de casa. Realizou com elas muitas entrevistas abordando os mais diversos temas como a liberdade, a fé, a vida e a felicidade.

Com elas aprendeu que, o desejo humano de tentar criar o futuro dos nossos sonhos, é mais do que um simples elemento do nosso instinto de sobrevivência, baseado em sustentar ou melhorar experiências passadas e presentes. Sonhar é o primeiro passo para a liberdade. É libertar o desejo adormecido.

Manu diz-nos que esse sonho consciente é muitas vezes obscurecido com fronteiras inconstantes e porosas entre escuridão e luz, entre a esperança, a realidade e o absurdo. O sonho ganha então outra forma e substância quando o mesclamos no relacionamento com os outros e com a sociedade.

Numa visão que acreditamos ser certa, sonhamos com o futuro que conscientemente guardamos em nossas mentes e, nele revisitamos deliberadamente uma existência alternativa, uma vertente dinâmica e cronológica da sua concretização.

Nesta mostra, encontramo-nos frente a frente com as diferentes personagens quer em momentos de lazer como de luta, quer em meditação ou em harmonia, mas todas elas, procurando incessantemente encontrar estratégias de sobrevivência.

Numa liberdade artística, o estilo das obras de Manu Madeira adapta-se, dando vida própria a cada mulher na construção do seu espaço e dando alma a cada história através do seu próprio vocabulário visual.

Utilizando uma técnica mista, com óleos, tintas e acrílicos sobre painéis de gesso e de tela, a sua pintura de puro realismo, muda ousadamente para um estilo livre de cânones, muda da metamorfose do sonho para a realidade, segundo a sua visão da concretização do futuro sonhado.

Nos seus retratos, quase todos realizados em 2019 e 2022, Manu Madeira reafirma inequivocamente a sua crença na luta diária das mulheres e na sua própria crença no futuro. Pinta mulheres artistas, estudantes, donas-de-casa, activistas, desempregadas que vivem vidas emocionais, corajosas e não convencionais, mulheres que, participam cada vez mais activamente na construção de uma sociedade sem paradigmas nem conceitos.

Yolanda Couto